Em minha adolescência desejei ter um monte de coisas: brinquedos, bike, roupas de moda, calçados e tantas outras coisas que meninos em fase de adolescia cobiçam. Eu queria tudo aquilo porque meus amigos tinham. Mas não poderia tê-las, pois meu pai não tinha condições para tal. Aquilo me causava uma certa tristeza. O interessante nesse meu passado é que meu pai, não podendo dar-me objetos que mencionei acima, supria este vazio dando-me livros, jornais e etc. Todo o papel em que havia letras ele me dava e obrigava-me a lê-los. Parecia-me chato no começo, porém, a medida em que o tempo passava, eu mesmo ida atrás de livros e papeis com letras. E como a minha família era pobre, não tive nem o luxo de ir para livrarias comprar livros. Por essa razão, eu ia para o lixão, e lá apanhava livros e revistas para ler.
Meu amor por livros tornou-se firme e definitivo a partir do dia em que meu pai voltou para casa em um dia de trabalho com um livrão de 552 páginas que ele mesmo havia apanhado em uma lixeira enquanto retornava para casa. Mas apesar de achar aquele tesouro em lugar inapropriado, ele estava beeem conservadíssimo! Ele me disse: “ Tomé, trouxe um presente para você! ” Corri para ver o que era e quando recebi aquele calhamaço, li o título imediatamente: “ O Códex 632(li esse livro quando eu não tinha compromisso sério com Deus. por isso, apesar de citar essa obra, não apoio nem recomendo a leitura), autor José Rodrigues Santos. ” Eu deveria ter naquela época uns 14 ou 15 anos de idade. Para um rapaz que não tinha muito o que fazer na vida, sem Internet e brinquedos, nem sequer uma bike para se divertir, aquele livro passou a ser meu melhor amigo. Em uma semana devorei aquela obra de 552 páginas. Meu pai também queria muito ler. Então, nós revezávamos: eu lia de manhã, e à tarde enquanto ia para a escola, o livro ficava com meu pai que lia também. Códex 632 é de autoria de José Rodrigues, de nacionalidade portuguesa. A obra é um romance, misturado com suspense e muitos mistérios. O Códex 632 conta a história de uma investigação em torno da possibilidade de Cristóvão Colombo ser português, apoiando-se em lacunas do percurso do navegador cuja identidade e missão continuam a suscitar dúvidas.
O Romance foi tão bem escrito que comecei a criar imagens e, filmes passavam em minha mente a medida que eu lia cada detalhe da obra! Foi então que a partir daquele dia decidir nunca mais parar de ler! Mas como a pobreza era tanta que não dava para comprar livros em Angola, fiz um cartão de leitor em uma Biblioteca Católica, chamada Biblioteca Mosaico, em um bairro que ficava perto de onde eu morava. Eu pagava uma pequena quantia anualmente e tinha o acesso livre à biblioteca. Era tão bom estar naquele lugar. Eu entrava ali pela manhã e só saia quando os funcionários viam e me informavam: “ Tomé, nós lamentamos, mas está na hora de fecharmos a biblioteca. ” Com cara feia, eu me levantava e ia embora já pensando em retornar no dia seguinte. Meus pais não sabem; mas matei tantas aulas só pra passar o dia todo dentro da biblioteca lendo diversas obras. Lia vários livros por dia. kkk
Mas mesmo assim eu sentia que algo me faltava: eu queria comprar os meus próprios livros. Minha família é grande: somos em 6 irmãos, daí a dificuldade de meu pai comprar por exemplo, uma bike para mim. Ou meu pai não comprava nada para ninguém(como acontecia), ou então, deveria comprar bike para os 6 irmãos, o que era impossible! Aos 19 anos de idade fiz uma espécie de técnico de pedagogia e iniciei lecionando na primeira e segunda série. No dia que recebi meu primeiro salário ,minha mãe brigou muito comigo porque, ao invés de eu usar meu dinheiro para ajudá-la com algumas despesas da casa, fui à uma livraria adventista e gastei todo o salário em livros(SÓ HOJE SEI QUE HAVIA AGIDO MAL). E como os livros em Angola são muito caros porque quase não há livrarias como aqui no Brasil, fiquei sem dinheiro para voltar para casa. A solução foi: voltar para casa de pé. Mas valeu a pena! Rsrs
Minha vida mudou da água para o vinho assim que cheguei ao Brasil em 2014 para uma formação teológica missionaria que levaria 1 ano e meio. Amei várias coisas aqui no Brasil, mas nada teve tanto impacto em mim que a quantidade de livros que aqui existem e a facilidade em adquiri-los! Na primeira livraria que entrei meus olhos começaram a brilhar. Para cada livraria e biblioteca que entrei parecia que estava no paraíso, e estava mesmo! O Brasil aguçou tanto meu gosto por livro que quando em 2016 fui visitar minha família em Angola, tive que pagar excesso de bagagem no aeroporto só para levar 70 quilos de livros para meu país. Joguei roupa fora pra caber mais livros na mala.
Minha vida de leitor e minha relação com os livros tornou-se mais eficiente quando cheguei ao Brasil. Pois, aqui há muita facilidade em adquirir livros, e os livros são baratos demais comparando com os preços em meu país. Por isso criei este blog! Meu objetivo é inspirar mais pessoas a lerem bons livros, porque os resultados desse tipo de leitura é o melhor que qualquer pessoa pode receber ou colher.
Essa minha história e amor extremo por livros a ponto de pagar excesso de bagagem, trocar roupas por livros, pode até parecer loucura e ilusão para você, mas para um rapaz pobre como eu, sem grana nem muita coisa na vida (só Cristo que é tudo para mim) é o melhor investimento que posso dar para mim mesmo. Sei que um dia, tudo o que li e aprendi com os livros, vão ajudar-me a ter um futuro melhor e melhores condições de vida para minha família que está lá na África. Leio não pra me mostrar, mas sim, por necessidade. Preciso ler, me informar, ou serei obrigado a creditar em tudo o que me dizem, para além de estar condenado a viver uma vida ignorante e medíocre.
Só uma coisa me deixa triste: o Brasil está na lista dos países que quase não leem. Segundo algumas pesquisas, o brasileiro lê em media 1 livro por ano. Meu apelo é-brasileiros, aproveitem o que há de melhor em vosso país. É tanto livro bom, tantas livrarias, bibliotecas e editoras, pra vocês viverem uma vida longe de livros que poderiam vos proporcionar informação e conhecimento que seriam convertidos para o melhoramento do país que vocês têm.
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