Autor: Maylan Shurch, Mikhail P. Kulakov
Editora: Casa Publicadora Brasileira
Páginas: 240
Ano: 2010
Classificação: 5/5
Sinopse:
Uma fé sólida e inabalável. Isso era tudo o que o jovem Mikhail Kulakov possuía. O governo comunista soviético lhe tirara a profissão, a família e a liberdade. Seu crime? Servir fielmente a Deus ou, nas palavras da KGB, promover "atividades antissoviéticas". Ele foi preso, interrogado e condenado a cinco anos em campos de trabalho forçado. Todavia, nem mesmo a perspectiva de banimento eterno numa remota vila da Sibéria o deteve de confiar firmemente nas promessas de Deus... Ainda que os céus caíssem.
Sinto que perdi as palavras em relação a este livro. Talvez porque nada do que eu diga será suficiente para expressar o impacto que esta obra causou em mim, ou ainda, quem sabe, porque nenhum adjetivo seja suficientemente grandioso a ponto de poder descrevê-la. Mas, certamente este é um daqueles livros que acrescenta, que cativa e que arrebata o leitor, despertando nele os mais diversos sentimentos.
Bom, eu particularmente tenho um carinho e interesse especial por obras autobiográficas, como é o caso de Ainda que Caiam os Céus, pois acredito que pessoas vividas, marcadas por experiências, conhecedoras de alegrias e tristezas, tendem a ser inspiradoras. Mas, confesso que mesmo assim eu não estava preparada para um livro tão verdadeiro e profundo, que ao mesmo tempo em que emociona também ensina.
Ainda que Caim os Céus, traz como história principal a vida do pastor Mikhail P. kulakov, o qual dedicou cinquenta anos de atividade pastoral e administrativa a causa de Deus na comunista União Soviética. É importante lembrar que a União Soviética se autodeclarava um Estado ateu, onde qualquer prática religiosa era vista pelo governo como agitações antissoviéticas. Portanto, nessa época, os cristãos foram fortemente perseguidos. E é nesse contexto histórico que a maior parte da vida de Mikhail é por ele mesmo narrada.
Mas, como se já não bastasse a intensidade da sua própria vida, o pastor Mikhail de início divide conosco um pouco da história da sua família, a partir do ponto em que o seu avô paterno se torna um adventista do sétimo dia. Dessa forma, tomamos conhecimento de como o senhor Stephan Kulakov se converteu e assim mudou por completo a vida das suas futuras gerações, a começar pelos filhos que se tornaram pastores e as filhas que vieram a ser esposas de pastores. Desse ponto em diante a história se torna mais profunda e emocionante, pois Mikhail passa a dividir com o leitor lembranças que nos dão vislumbres de sua vida de fé, desde a infância como filho de pastor até a sua fase mais madura. São tantos momentos tocantes, aflitivos, mas, por outro lado, cheios de intervenções divinas que maravilham e dão ânimo ao leitor.
Mikhail ainda pequeno experimentou o preço que muitas vezes nos é cobrado por seguir a Cristo. Com pouca idade foi separado do pai, foi desprezado por colegas de classe e experimentou a pobreza. Mas, por minhas percepções em relação ao livro, acredito que as experiências dolorosas da meninice foram apenas degraus que Mikhail sabiamente usou para se tornar um homem de fé, que aos 21 anos já receberia, assim como o pai, as consequências de ir contra um mundo regido pelo inimigo de Deus.
“Ao voltar os olhos para aqueles anos, não posso deixar de reconhecer como o Senhor estava nos ensinando, com carinho e ternura, a confiar inteiramente nEle. Deus nunca permitiu que fôssemos provados além do que podíamos suportar e seus olhos estavam sobre nós durante essas provações. No momento em que cada prova atingia o seu ponto crítico, a mão de Deus era estendida e a sua voz dizia: “Até aqui e não mais.””
A meu ver, o mais especial deste livro, como em quase todas as obras autobiográficas, é a alta carga reflexiva, ou seja, os pensamentos brotados das experiências difíceis e as conclusões oriundas das provações experimentadas. Entretanto, tudo aqui é mais intenso e tocante, pois as situações narradas, por serem suportadas por amor a Deus e, sem dúvida, com força advinda do Altíssimo, nos tocam o coração e nos levam a pensar como seria se fosse conosco. Como seria se tivéssemos que ser cristãos quando, ao contrário da liberdade religiosa que desfrutamos, tivéssemos que conviver com uma feroz perseguição que provavelmente nos separaria de nossas famílias devido ao exílio ou ao trabalho forçado em campos de concentração?
Na verdade, são justamente as dificuldades vivenciadas por Mikhail em nome da fé que mais inspiram, visto que o relacionamento do pastor com Deus dava a ele tamanha tranquilidade, perseverança e esperança que mesmo as situações mais difíceis eram encaradas com otimismo.
“Havia também alguns aspectos positivos naquela vida no campo de trabalho forçado. Aprendi as alegrias de compartilhar a fé com outros condenados e de desfrutar uma comunhão pessoal com Deus que não teria sido possível do lado de fora.”
“Louvo ao Senhor porque, a despeito das dificuldades, tenho forte convicção que não é apenas um dever, mas um privilégio poder servi-lo.”
E é com uma linguagem direta e marcada por sentimentos que o autor divide com o leitor, por meio de uma narrativa super fluida, do tipo que pode facilmente ser lida em uma sentada, sua vida de fé. Além disso, Ainda que Caim os Céus é rico no avanço do cristianismo na União Soviética, e contêm pitadas dos pontos de vista da esposa e filhos do autor sobre o tempo difícil que viveram naquela época, o que, em minha opinião, torna a obra muito mais completa e envolvente. Assim sendo, certamente trata-se de uma leitura inesquecível e muitíssimo enriquecedora, de modo que nada mais tenho a dizer além de: recomento, recomendo e recomendo!
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